Luiz Augusto Faria (Universidad Federal de Río Grande do Sul, Brasil)
Na primeira década do novo milênio, uma onda esquerdista espraiou-se pela América Latina, em larga medida como reação à crise do neoliberalismo. Superada a crise, o crescimento veio, combinado com a equidade. No plano econômico, o desenvolvimento foi impulsionado pelo mercado interno de produtos industriais, de infraestrutura e de serviços de comunicação e informação, de um lado, e pelo mercado mundial aquecido para as exportações de bens primários, geralmente conhecidos como commodities, de outro. Ao final da primeira década do novo século, algumas transformações eram visíveis na maior parte dos países latino-americanos.
O crescimento mudou de patamar: de uma taxa média anual calculada pela CEPAL de 0,84% da renda per capita entre 1990 e 2002, houve uma elevação para 2,63% entre 2003 e 2009. À expansão econômica e ao aquecimento do mercado de trabalho, somaram-se as transformações políticas que têm causado desassossego entre os conservadores de todas as Américas. Forças políticas e sociais historicamente sempre ausentes dos centros de poder no continente venceram eleições e passaram a governar e a introduzir na agenda política o até então interdito tema da equidade e o propósito de resgatar os direitos políticos e econômicos às classes sociais marginalizadas, a começar pela Venezuela bolivariana, e indo adiante na Argentina dos Kirchner e no Brasil do PT, para, na sequência, ocorrer também na Bolívia da ascensão dos povos originários, no Uruguai da Frente Ampla, no Equador de Correa, no Paraguai dos camponeses guaranis e, neste ano, no Peru de Umalla, sem esquecer o Chile da Concertación, ou os ecos dessa onda na América Central e no Caribe. A redução da pobreza é a maior conquista desse movimento.
Os índices de desigualdade, historicamente recordistas na América Latina, experimentaram um declínio importante. A Embora haja alguma discrepância de datas e inexistência de dados para todas as nações é possível identificar dois grupos. De um lado, estão Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, El Salvador, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, os países onde a desigualdade se reduziu. De outro lado, na Colômbia, na Costa Rica, na Guatemala, em Honduras, no México e na República Dominicana, a desigualdade cresceu. Não foi a intensidade do crescimento a responsável por essa diferença, pois há, nos dois grupos, países que cresceram pouco, como Brasil e México, e muito, como Argentina e Colômbia. A desigualdade foi reduzida nos países cujos governos puseram em ação políticas sociais voltadas aos interesses das classes populares com vistas a realizar transferência de renda e elevação de salários